domingo, 9 de maio de 2010

A EDUCAÇÃO FISICA NO ENSINO MÉDIO: PRÁTICA ESPORTIVIZANTE? (continuação)

Todas as concepções referidas anteriormente viam o esporte como um elemento da Educação Física e buscavam, algumas delas, alternativas para a sua utilização retirando desta prática o seu caráter excludente, seletivo. A concepção crítico-superadora, por exemplo, colocava o esporte no rol dos elementos a serem trabalhados pela Educação Física como um componente da Cultura Corporal. No entanto, nesta concepção o trato dado ao esporte ganharia uma nova dimensão, deixando de ser uma prática irrefletida, passando a discutir e questionar os componentes desta prática social, confrontando, sempre que possível, os conhecimentos do senso comum com os conhecimentos científicos. Em uma outra vertente, a concepção da Aptidão Física estabelecia uma crítica aos professores que pautavam sua prática no ensino das modalidades esportivas, pois tais atividades não teriam grande influência na promoção da saúde (GUEDES & GUEDES, 1996). Para NAHAS (1997) o direcionamento da Educação Física no Ensino Médio seria o de estabelecer uma relação entre a atividade física, a aptidão física e a saúde.
Para GUEDES & GUEDES (1993, p. 4):

Tradicionalmente os programas de educação física escolar tem procurado privilegiar as atividades voltadas a prática de esportes, seja de forma competitiva ou recreativa, com a falsa idéia de que a prática de esportes possa assegurar que as crianças e jovens, no futuro, se tornem pessoas adultas ativas fisicamente, e, portanto, mais saudáveis (...) Através desses programas, a nova função proposta aos professores de educação física, seria a de assumirem um novo papel frente a estrutura educacional, procurando adotar em suas aulas, não mais uma visão de exclusividade a prática desportiva, mas, fundamentalmente, alcançarem metas em termos de promoção da saúde, através da seleção, organização e desenvolvimento de experiências que possam propiciar aos educandos, não apenas situações que os tornem crianças e jovens mais ativos fisicamente, mas, sobretudo, que os conduzam a optarem por um estilo de vida ativo quando adultos.

Apesar de todo o discurso em prol da promoção da saúde, nas sugestões de conteúdos para os Ensinos Fundamental e Médio, os autores estabelecem a prática de competições esportivas, enfatizando que os objetivos deste conteúdo seriam a organização e administração de equipes e a realização de torneios esportivos, ou seja, ao que parece a inserção do esporte como conteúdo programático nesta concepção é feita sem que haja uma relação com os objetivos defendidos.
Além das diferentes concepções citadas anteriormente, após a publicação da LDB 9394/96, confeccionou-se um documento denominado de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), com o intuito de colaborar para a construção de propostas pedagógicas por parte das escolas e, ainda, contribuir para uma melhoria da prática docente. Os PCNs relativos à Educação Física também tentaram romper com a relação estabelecida entre esta disciplina e a prática esportiva. O Ministério da Educação (MEC) em suas “Orientações para o Ensino Médio” afirma:

... somos obrigados a reconhecer que, analisando o contexto e o cotidiano escolar, inclusive ouvindo os participantes dos seminários, a forma como os conteúdos são tratados nas escolas nas últimas décadas acabaram por torná-los formas esportivas/competitivas por excelência, deixando em segundo plano outros temas e perspectivas de formação próprios da Educação Física (BRASIL, 2006, p. 230).

O documento do MEC ainda desfere severas críticas ao processo discriminatório que este modelo de Educação Física produziu nas escolas, pois, ao enfatizar a prática esportiva, fazia-se uma seleção dos melhores, ou seja, é a consolidação da exclusão dentro do ambiente escolar. O texto faz ressalvas à utilização de discursos como: “Esporte é vida”, “Esporte é saúde”, “Esporte sim, drogas não”, pois eles servem como um anteparo para a massificação desta prática na escola via Educação Física. (continua)

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