terça-feira, 15 de junho de 2010

A EDUCAÇÃO FISICA NO ENSINO MÉDIO: PRÁTICA ESPORTIVIZANTE? (FINAL)

Além desta competição patrocinada pelo Governo do Estado, Sergipe conta, ainda, com mais duas em nível escolar. Uma delas patrocinada e organizada por uma das afiliadas da Rede Globo de Televisão, a TV Sergipe, chamada de “Olimpíadas Escolares” e a outra que congrega somente as escolas particulares, denominada de Jogos das Escolas Particulares de Sergipe (JEPS).
Estas competições cobrem quase que o ano inteiro gerando empregos para muitos professores de Educação Física, que são contratados como técnicos esportivos e, como tal, avaliados por seus sucessos e insucessos.
Tais competições, como já dito, servem como vitrines para as escolas particulares, inclusive gerando “chamadas televisivas” para divulgar os resultados alcançados. Recentemente, o Colégio Amadeus divulgou o resultado de campeão geral nas “Olimpíadas Escolares” realizada pela TV Sergipe, cunhando a seguinte frase ao final da propaganda: “Campeão no Vestibular e no Esporte”. A colocação da conquista esportiva ao lado dos resultados obtidos no vestibular denota o status desta prática no âmbito escolar.
Para conseguir um bom desempenho nas competições, algumas instituições de ensino particular mantêm estruturas físicas e turmas de treinamento. Um exemplo disto é o Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus, que conta com profissionais específicos para cada modalidade esportiva e um espaço de treinamento, contando com ginásio e parque aquático. Além deste, outros estabelecimentos, a exemplo do COC/São Paulo e o Amadeus, dispõem de estrutura semelhante.
Como se pode perceber, principalmente nas escolas particulares, é muito difícil superar o modelo esportivizante nas aulas de Educação Física, com um agravante, algumas destas escolas cobram pelas práticas de iniciação esportiva e aqueles que não se “matriculam” em tais atividades devem fazer às aulas de Educação Física, uma espécie de “punição” por não praticarem esportes. Desta forma, em algumas instituições particulares o Esporte ganhou autonomia, não precisando mais da Educação Física para existir e esta, por sua vez, perde sua forma de se legitimar no âmbito escolar.
Contudo, é importante ressaltar que na rede pública de ensino são muitas as possibilidades de ação, no entanto a tarefa não é tão simples, pois o esporte está consolidado socialmente, tem sua legitimidade, enquanto a Educação Física no Ensino Médio encontra-se à deriva, pois não se encaixa no modelo pré-vestibular dado a este segmento da educação básica e, não consegue demonstrar sua importância na formação do jovem, por isso se torna “mais fácil” atrair os adolescentes pelo seu gosto esportivo e, desta forma, mantem-se como um componente secundário na formação escolar.
É preciso expandir os horizontes dos conteúdos da Educação Física para além do esporte e da promoção da saúde, contribuindo assim, para que o corpo possa ser observado em suas dimensões histórica, sociológica, biológica, antropológica, filosófica; fazendo com que o aluno perceba o corpo individual e coletivizado e, com isso, a Educação Física dará um passo significativo para sua legitimação sem a necessidade de se ancorar em práticas sociais, a exemplo do esporte.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO e FONTES

BETTI, Mauro. Educação Física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.
BRACHT, Valter. Educação Física e a aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992.
______. Sociologia Crítica do esporte: uma introdução. Vitória: CEFD/UFES, 1997.
______. Educação Física e Esporte: intervenção e conhecimento. Conferência de abertura da I Semana de Educação Física. Aracaju, 1999. (mimeo).
_____. Esporte na escola e esporte de rendimento. Revista Movimento, n 12. Porto Alegre: UFRGS, jul. 2000. p. XIV- XXIV
BRANDL, Carmem Elisa Henn. A nova política para o ensino médio: um estudo da Educação Física a partir das novas diretrizes e dos novos projetos pedagógicos. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.24, n.3, p. 71-86, 2003.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Educação Física. Brasília: MEC / Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 1999.
______. Orientações para o Ensino Médio / Educação Física. Brasília: MEC / SEB, 2006.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física Escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v.2, n.1 (suplemento), 2001.
GUEDES, D.P. & GUEDES, J. E. R. P. Subsídios para implementação de programas direcionados à promoção da saúde através da educação física escolar. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina. V.8, n.15, p. 03-11, 1998.
______. Sugestões de conteúdo programático para programas de educação física escolar direcionados à promoção da saúde. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina. V.9, n. 16, p. 03-14, 1999.
KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: UNIJUÍ, 1994.
LEITE FILHO, Gilson Dória et alli. Subsídios aos conteúdos da educação física. Aracaju: SEED, 1998.
NAHAS, M. V. Educação Física no ensino médio: educação para um estilo de vida ativo no terceiro milênio. In.: Seminário de Educação Física Escolar / Escola de Educação Física e Esporte, IV. Anais... p. 17-20, 1997.
SANTIN, Silvino. Educação Física: da alegria do lúdico à opressão do rendimento. Porto Alegre: Edições EST / ESEF, 1996.
SERGIPE. Portaria n° 1251/99 de 17 de maio de 1999.
______. Caderno de Subsídios Educação Física. Aracaju: DEF / SEED, 2006.
TANI, Go et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A EDUCAÇÃO FISICA NO ENSINO MÉDIO: PRÁTICA ESPORTIVIZANTE? (CONTINUAÇÃO IV)

No ano seguinte, em 1999, por meio do Decreto nº 1251/99, a mesma Secretaria normatizava o ensino da Educação Física, buscando, segundo o documento, “a valorização tanto da disciplina como do educando”. Neste sentido, no seu Artigo 3º, asseverava: “os conteúdos curriculares da educação básica deverão observar ainda, a promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não formais”. Com isto a SEED, deixava claro o seu entendimento sobre a Educação Física e à que ela deveria se destinar. Este Decreto, ao que parece, regulamentava a esportivização da Educação Física em âmbito estadual, pois no Parágrafo Único do Artigo 3º ressalta que o professor poderá dispor de 50% de sua carga horária para o desenvolvimento de atividades e projetos da área, sendo um deles e, talvez o principal, o treinamento desportivo.
Ainda em 1999, a SEED promoveu o I Encontro Estadual de Educação Física, incluindo a apresentação de trabalhos de professores e acadêmicos da área. Uma atividade semelhante, como já dito anteriormente, foi realizada pelo DEF/UFS, com a “Semana de Educação Física”. O evento promovido pela SEED, continua acontecendo anualmente, fato que não ocorre com o do DEF/UFS, o qual somente realizou três edições.
Estes encontros possibilitam uma formação continuada e uma troca de experiências que pode levar a um aperfeiçoamento na prática educativa dos professores de Educação Física, pois, no momento que são expostas as dificuldades e os sucessos, há um importante momento de construção coletiva do conhecimento.
No ano de 2006, a SEED, por meio de suas Diretorias Regionais de Educação (DRE’s), construiu o “Caderno de Subsídios Educação Física”. No que se refere ao Ensino Médio, nota-se claramente uma mudança de direcionamento, pois se antes o Esporte era o fim, agora ele se torna mais um dos meios de promoção da saúde. A partir da análise dos conteúdos previstos para as três séries do Ensino Médio, percebe-se a hegemonia da concepção da Educação Física enquanto formadora de hábitos saudáveis, isto é, de promoção da saúde.
Os conteúdos destinados à 1ª série do Ensino Médio dividem-se em cinco unidades: Qualidade de Vida; Esporte e Qualidade de Vida; Atividade Física como forma de prevenção de doenças; Lutas e qualidade de vida e Atividade Física e o uso de drogas. Neste primeiro ano, percebe-se que a qualidade de vida foi o mote da organização e da finalidade dos conteúdos.
No segundo ano do Ensino Médio, permanece a mesma divisão em unidades, com uma clara modificação nos conteúdos: Influência da Mídia; Esportes Radicais; Capacidades Físicas; Atividades de Academia e; Aptidão Física. Nesta série nota-se uma dispersão dos conteúdos, o primeiro aborda a influência da mídia sob um ponto de vista sociológico, destinando pouco espaço para a relação desta com a atividade física. A segunda unidade dirigida aos esportes radicais reflete a influência da mídia nos próprios idealizadores das propostas, visto que as escolas públicas em sua maioria não possuem espaços adequados para a prática destas atividades. Da terceira a quinta unidade há um retorno à percepção da Educação Física como promotora da saúde.
No tocante aos conteúdos previstos para o 3º ano do Ensino Médio, há uma consolidação da idéia de que a Educação Física deve preocupar-se com a manutenção da saúde e a prevenção de doenças. Permanecendo a mesma divisão por unidades, os conteúdos dividem-se em: Programa de Atividade Física; Atividades Físicas na 3ª idade; Valores Sociais da Atividade Física; Alimentação e Atividade Física; Lazer. Excetuando-se a terceira e a quinta unidades, as demais refletem o caráter médico preventivo dado à Educação Física.
Apesar deste “novo” direcionamento dado aos conteúdos da Educação Física para o Ensino Médio, no qual o esporte é secundarizado, não é isso que se evidencia na prática, pois a própria SEED organiza todos os anos os “Jogos da Primavera”, sendo que as disputas mais esperadas são aquelas que envolvem os estudantes do Ensino Médio. Neste ano, 2007, a SEED trouxe algumas novidades: a divisão da disputa em etapas e o campeão em cada modalidade sendo selecionado para representar o Estado de Sergipe nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs).
Desta forma, apesar do documento apontar um outro direcionamento, o que ocorre na prática é um completo entrelaçamento da Educação Física ao esporte. Outro dado que se apresenta é a participação das escolas particulares, que utilizam os resultados esportivos para fazer propaganda das instituições, inclusive concedendo bolsas de estudo a alunos de escolas públicas que se destacam nos jogos, com o intuito de reforçarem suas equipes esportivas. Com isto, os Jogos da Primavera, patrocinados pelo Governo do Estado, tornam-se um espaço de divulgação das escolas particulares. (continua)

domingo, 13 de junho de 2010

A EDUCAÇÃO FISICA NO ENSINO MÉDIO: PRÁTICA ESPORTIVIZANTE? (cONTINUAÇÃO III)

Com isto, sem ter uma finalidade clara, ou melhor dizendo, uma utilidade pragmática, a Educação Física continua sendo vista socialmente ou como o espaço do lazer, da brincadeira, ou da preparação esportiva. Esta percepção social leva a fatos inusitados, como o ocorrido durante a transmissão da final da competição de Basquetebol masculino dos Jogos Pan-americanos 2007, Brasil x Porto Rico, pela Rede Globo de Televisão, no dia 29 de julho, na qual os comentaristas, ex-atletas de Basquetebol, Oscar Schmit e Hortência, alardeavam: “Vocês que estão vendo este jogo e que querem aprender a jogar basquete, procurem seu professor de Educação Física e digam: - Eu quero aprender a jogar basquetebol!”.
Além deste, outros comentários se seguiram sobre a necessidade do aprendizado esportivo na escola, tendo como espaço as aulas de Educação Física. Esta mesma emissora televisiva, semanas antes dos Jogos Pan-americanos, havia exibido matérias em seu telejornal esportivo diário, Globo Esporte, demonstrando iniciativas de professores de Educação Física em prol do desenvolvimento esportivo e da formação de novos atletas.
O próprio Governo Federal, através do Ministério dos Esportes, desenvolveu um projeto chamado “Segundo Tempo”, no qual os alunos retornam à escola em um horário contrário ao de suas aulas, para serem iniciados em diversas modalidades esportivas.
Todas estas ações demonstram o quanto o esporte está presente no âmbito escolar. Nos PCNs de Educação Física está presente o seguinte comentário:

A influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a subordinação da Educação Física aos códigos/sentido da instituição esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional (BRASIL, 1999, p. 156).

Em Sergipe, o pós LDB 9394/96 fez fervilhar debates e escritos acerca dos destinos da Educação Física como componente curricular integrado à proposta pedagógica da escola. Várias iniciativas foram tomadas, o Departamento de Educação Física (DEF) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) promoveu a I Semana de Educação Física, em 1999; antes disso, a Secretaria de Estado da Educação e do Desporto e Lazer de Sergipe (SEED), no ano de 1998, havia lançado um manual que deveria servir de base para os professores, os “Subsídios aos Conteúdos de Educação Física”. Neste manual é perceptível um duplo direcionamento: um voltado para a Educação Física enquanto promotora da saúde e outra dirigida para a formação desportiva dos alunos. É interessante ressaltar que tal documento destinava-se apenas ao Ensino Fundamental. (CONTINUA)