domingo, 18 de abril de 2010

APRENDIZADOS E PATRONATOS: UM COTEJO ENTRE DOIS MODELOS DE ENSINO AGRÍCOLA DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX (1911 – 1934)


INTRODUÇÃO


Desde o século XIX eram grandes os debates em torno de um aproveitamento mais racional da terra, como também de todas as atividades ligadas a vida no campo (MENDONÇA, 1997 e 1998). Com o intuito de responder a tais anseios, foram criadas, ainda durante o Império, alguns Institutos Agrícolas, sendo o mais bem sucedido destes empreendimentos o Imperial Instituto Agrícola da Bahia.
No entanto tais institutos recebiam críticas de parte da elite agrária brasileira, que alegava ser a formação prestada por tais estabelecimentos, marcadamente livresca, não atentendo, portanto, aos anseios de preparação de mão de obra que atendesse as necessidades das grandes lavouras. Isto fez com que órgãos como a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), além de administradores públicos, perspectivassem a criação de instituições agrícolas de caráter eminentemente prático, que se voltassem para uma formação primária e média. O intuito neste caso seria o de formar o trabalhador agrícola, aquele que seria responsável por dinamizar a agropecuária brasileira. Para tanto, vislumbrando a formação profissional agrícola em nível primário, foram criados na segunda década dos novecentos os Aprendizados Agrícolas e posteriormente os Patronatos Agrícolas.
Debruçar-se sobre a história do ensino agrícola é de fundamental importância para que possamos compreender os processos e as práticas educativas utilizadas na formação de crianças e jovens, que durante as primeiras décadas do século XX, participaram ativamente do desenvolvimento agrícola brasileiro, buscando nas instituições escolares um aparato ferramental para utilizar a terra de maneira mais racional e otimizada.
Outro ponto a ser levado em consideração, são os parcos trabalhos desenvolvidos sobre tal temática. Neste sentido, temos uma série de trabalhos desenvolvidos por Sônia Regina de Mendonça (1997 e 1998) e Nilton de Almeida Araújo (2006), ambos direcionando a atenção para a formação agrícola em nível superior; a produção do professor Jorge Carvalho do Nascimento (2004), sobre os oitenta anos de funcionamento da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão e o de Milton Ramon Pires de Oliveira (2003) sobre a rede de Patronatos Agrícolas Federais criada no Brasil entre 1918 e 1934, instituições estas que atrelavam o ensino primário agrícola e a assistência aos menores desamparados.
Outrossim, merecem ressalvas interpretações aligeiradas estabelecidas por pesquisadores que se detiveram em análises amplas sobre a educação brasileira ao longo de décadas. Neste sentido, são exemplares as observações asseveradas por Otaíza de Oliveira Romanelli (1998), nas quais a autora praticamente desmerece a educação profissional na primeira república e, a efetivada pelo pesquisador Jorge Nagle sobre as instituições técnico-profissionais, as quais afirma que se baseavam menos numa ótica educacional e mais “como um plano assistencial aos ‘necessitados da misericórdia pública’: o seu objetivo inequívoco – muitas vezes, explicitamente proposto – era o da regeneração pelo trabalho” (NAGLE, 2001: 213). Estas interpretações, de certa forma, marginalizam instituições como as Escolas Profissionais criadas em diversos estados brasileiros, as Escolas de Aprendizes e Artífices e os Aprendizados Agrícolas, por exemplo.

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